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Mário Simões- Os Sobreviventes

Muito poucos terão na sua vida passado por momentos como os que estamos a passar. E, mesmo esses curiosamente são aqueles que mais riscos correm nesta altura. A vida tem destas coisas, parece que gosta de castigar gerações.

Quem tem oitenta anos, nasceu em plena segunda guerra mundial e embora Portugal não tenha entrado na guerra directamente as suas consequências foram sentidas por todos, depois essa mesma geração viveu o drama da guerra colonial, foi ou viu partir para a guerra familiares, viveu a suspensão da vida pelos anos de tropa, para as famílias e para os jovens a vida dividia-se em antes de depois da guerra.

Viveram a incerteza da guerra fria, viveram a revolução de Abril viveram a mudança de um mundo rural para um mundo urbano e de consumismo e agora vivem a incerteza destes dias incertos, em que a comunicação social na sua voracidade e insensibilidade vai dizendo que eles são descartáveis, serão os primeiros a ir para as novas câmaras de gás.

Os outros, os da minha geração e não só, não viveram com intensidade nada disto, tudo o que sabem das guerras são dos livros dos relatos dos filmes e muitos ainda nem disso sabem porque houve gerações a minha incluída que achou que o saber pouco interesse tinha e que vivíamos no tempo do ter.

E, convenceram se e convenceram nos que tínhamos tudo, e de repente veio a verdade, não temos nada a não ser a nossa vida que depende vejam lá de um inimigo que não se vê.

E o que fazem os que sempre tiveram tudo, protegem se, entram em pânico, não tem imaginação para mais do que para mudar os canais da televisão, esperam que tudo passe rápido e se não passar, como sempre fizeram, como nós lhe ensinamos a fazer acusam os outros, e acusar é tão fácil.

Bom, não vou alongar-me mais vou ter tempo para isso. Vou só terminar escrevendo sobre aqueles que tem 80 anos.

Não, não estão sós, percebo perfeitamente porque vão á rua comprar o seu jornal, dizer bom dia, afinal são uns sobreviventes e vão sobreviver, vamos sobreviver, mas se não aprendermos nada com isto, não estamos a sobreviver, estamos apenas a prepararmos para algo muito pior que um dia virá.

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