Ideias à Solta
- Francisco Gs Simões
- 15 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
- Inteligência social e a biologia da liderança - leitura crítica do artigo de Daniel Goleman e Richard Boyatzis
Aviso: a leitura deste artigo pode causar graves incómodos aos líderes mais céticos que se despem de emoção para o exercício das suas funções.
É hoje sabido que o estabelecimento de ligações empáticas por parte dos líderes promove nos grupos uma performance elevada para o cumprimento de objetivos.
A ideia de que os indivíduos se transformam em autómatos quando exercem as suas funções profissionais não corresponde, de todo, à realidade. Cada vez mais, aliás, se exige que às competências técnicas, os líderes adicionem e demonstrem capacidades pessoais e relacionais, as tão sexy´s softskills, que representam cada vez mais uma percentagem maior das exigências do mundo real das organizações.
É pois inegável que ao líder, não basta ser capaz tecnicamente, esse é, aliás, um requisito que não diferencia os bons ou maus líderes, é exigível que aquele seja capaz de atuar de forma sábia nas relações humanas, conduzindo, dessa forma, as equipas para os melhores resultados.
Goelman e Boyatzis destrinçaram esta noção de inteligências social e emocional, e o quanto estas competências são fulcrais para uma liderança eficaz, uma vez que exponenciam as capacidades sociais do líder, conferindo-lhe competências interpessoais, construídas em circuitos neurocerebrais específicos, que inspiram as equipas a serem eficazes.
Desenvolve-se a ideia verdadeiramente importante de que a empatia e o auto conhecimento desempenham um papel vital no exercício da verdadeira liderança, porquanto criam um energia entre o líder e os colaboradores.
Mas não basta que o líder domine a inteligência emocional, uma vez que, para isso, está dependente do desempenho de outros, pelo que também tem de dominar a inteligência social. É necessário que reconheça as emoções do outro, tenha em atenção com que lente vê o mundo, o sente, e use todas estas informações nas suas interações. E só o vai conseguir através da motivação, persuasão, desenvolvimento e crescimento dos que o rodeiam. Só assim conseguirá ser um líder.
A inteligência emocional está focada na pessoa, na sua autogestão, na consciência dos seus sentimentos e paixões, do que motiva e do que deprime, do que gera eficácia e do que diminui o seu desempenho. Esta centra-se na própria pessoa, no seu desempenho, disciplina, motivação e foco.
Considerando, ainda, a ideia do designado "efeito espelho" - as emoções do líder são espelhadas na equipa, assimiladas e repercutidas nas suas ações. O líder deve ser isento e dar o exemplo. Mas não deve automatizar-se. As suas características pessoais e humanas serão as mais distintivas. O efeito de ativar a atividade neurológica de outros é extremamente importante nas organizações porque se propulsionam ideias, ações e sentimentos nas equipas.
O líder destes autores é o componente central, o modem que efetiva a interligação na organização. Numa era de tecnologia dominante, tantas vezes desgastante e desumanizante, parece-me que podemos retirar uma grande aprendizagem dessa imagem de rede de conhecimentos, inteligências e culturas, todas diversificadas, mas todas contribuindo para uma confluência de saberes cujo resultado final é mais do que a soma das partes.
A forma de desenvolver as capacidades sociais opera-se por via de mudança individual de comportamento. É crucial o auto conhecimento e a identificação racional das forças e fraquezas. Para evoluirmos, também precisamos de realizar, em nós próprios, uma análise de Porter, em que identifiquemos todos os constrangimentos à nossa evolução, e nos capacitemos da importância do treino de competências sociais e pessoais - "know yourself in order to make a better job".
Uma cultura organizacional que não valoriza os seus colaboradores ou faz uso substantivo do sistema de avaliação por objetivos, onde o mérito não é premiado e o erro e incompetência não são disciplinados, a ausência de gestão de qualidade e de liderança ressalta como problema existencial. É necessário que os líderes possam ser, efetivamente, líderes e que tal liderança seja exercida com competência e reconhecimento.
Este é um objetivo.
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