Grande Reportagem
- Francisco Gs Simões
- 1 de mar. de 2019
- 5 min de leitura
É Carnaval… então vamos brincar…amanhã em Portel domingo em Monte Trigo
Alegria, paródia, boa disposição, mascarados, partidas inocentes, bailes, desfiles, folia…enfim para tudo se acabar na quarta-feira que é de cinzas, porque se enterra o Entrudo.
Antes de escrevermos sobre o Carnaval ou Entrudo como muitos ainda gostam de dizer, vamos aqui fazer um apelo. Tiremos o ar sisudo e mascaremos de alegria e boa disposição, vamos para a rua ver passar os desfiles de carnaval e o melhor era mesma participar e como dizem os nossos irmãos brasileiros, deixar a tristeza para lá.
No concelho de Portel, Monte Trigo tem um carnaval já bem anunciado e conhecido e o desfile será domingo, pelas 15 horas mais ou menos. Na sede do concelho, Portel o desfile vai realizar-se sábado também pelas 15 horas, nestas e em outras localidades à volta haverá bailes onde os dançarinos e foliões têm a obrigação de se divertir e de entrar na festa, sem a estragar.
Mas, vamos então viajar por esta coisa que é o carnaval. Festa pagã, cristã, não é do ponto de vista histórico que aqui queremos deixar umas palavras, vamos viajar sim pelas tradições que consoante as modas vieram tomando conta destes dias que vão desde sexta até quarta-feira.
No Alentejo nomeadamente na região de Évora a tradição do carnaval são as brincas, já por exemplo em Redondo ou mesmo em Portel e Monte Trigo entre outras terras a tradição são os chamados corsos.
Mas, o que são as brincas carnavalescas. Pois não são nada mais nada menos que uma
" forma dramática, parente de outras tradições performativas nacionais e internacionais (Floripes do Minho, Papeladas de Valongo, Danças dramáticas da Terceira, Tchiloli de São Tomé, Bumba meu Boi e Cavalo Marinho de múltiplas regiões do Brasil) e que é constituída por um grupo de homens e rapazes que vai soltando décimas, numa cadência ritmada bem audível e, dessa forma, co(a)ntam uma antiga história (Fundamentos). Pelo meio, um trio de faz-tudos desafia e intromete-se com a assistência, contrastando nitidamente com o aprumado figurino dos restantes performers”
Os participantes nestas brincas vestem calça, casaco e chapéu escuros atravessados por fitas de seda coloridas pespontadas com flores de papel.
Uma marcha lenta evolui coreograficamente em torno de um estandarte, coordenados pelo Mestre, ao som do acordeão e percussões, desembocando num círculo perfeito.
Um dos grupos que continua a animar o carnaval na zona de Évora com as suas brincas é o Grupo de Brincas dos Canaviais (um dos poucos grupos em actividade!) que as preparam e ensaiam na Casa do Povo dos Canaviais que teve por exemplo um fundamento que representava a tragédia de Pedro e Inês. Segundo a investigadora Isabel Bezelga “Independentemente da narrativa em questão, que introduz a diferenciação ao nível temático e de personagens, existem figuras que se mantém e que adquirem uma centralidade que lhes confere a "identidade" de fundamento de brincas: o Mestre (apresentador das Brincas, ensaiador e detentor do saber), o Bandeira (porta Estandarte do Grupo), o Acordeonista e os Faz-tudo. Duma forma geral os participantes/actores evocam e apropriam-se das personagens através dos figurinos e adereços que usam.
A criação da"figura"é realizada com o recurso a formas simples de fácil identificação, quer individualmente quer de grupos. Recorrem ao uso de adornos e objetos: coroas, chifres, chapéus, espadas, cruzes e chocalhos, mantos e xailes.... E o uso da máscara impera, mesmo que, como ocorre nas Brincas, ela seja substituída por "óculos escuros", que aqui desempenham essa mesma função mediador”
É curioso que a brincas que parece que estão em desuso, não são assim tão antigas embora tenham rapidamente entrado nos hábitos carnavalesco dos alentejanos. Não foram encontrados registos relacionados com as Brincas anteriores ao início do séc. XX. Os historiadores encontram no entanto algumas explicações para este facto e uma das explicações para esta falta de registos históricos pode estar relacionada com o facto dos participantes se situarem fora da notabilidade histórica. Existem algumas relações de cumplicidade entre os textos dos fundamentos e os textos teatrais em folhetos de cordel.
Procurando um pouco na memória encontro brincas um pouco por toda a região de Évora sendo por exemplo muito interessante as brincas de S. Miguel de Machede, que tiveram uma grande importância cultural naquela vila e que hoje foram digamos assim substituídas por marchas.
Bom tradições à parte e existem muitas em todo o Alentejo relacionadas com a palavra Entrudo, por exemplo as entrudança. Mas, vamos ver a diferença entre Entrudo e Carnaval.
Comecemos pela palavra. Carnava,l palavra que provém da expressão latina carne, vale!, com o significado de "adeus, carne!"; outra, que a palavra chegou ao português por via francesa, do italiano carnevale, procedente de carnelevare, que significava "rejeitar a carne", formada do latim carne(m) levare (suprimir ou tirar a carne).
Na realidade a palavra Carnaval, designava apenas a última terça-feira desse período que começa no Dia de Reis e vai até à Quaresma. Ora, segundo o preceito católico, essa terça-feira era o dia de dizer adeus à carne (comida, festas, luxúria...), porque se ia entrar num tempo de abstinência logo no dia seguinte, quarta-feira de cinzas.
Mais tarde a palavra Carnaval passou a designar todo o período de festas, persistindo a percepção da sua relação com a carne, mas desaparecendo o significado do adeus ou da supressão. Aliás, dá-se o nome de "gordo" aos dias que precedem a entrada na Quaresma, nomeadamente o "domingo gordo" ou a "terça-feira gorda". Dias gordos são os dias de carne, em oposição a dias magros ou dias de peixe, em que a Igreja prescreve a abstinência de carne.
Quanto a Entrudo, é a antiga denominação portuguesa para esse tempo de três dias de divertimento que precedem imediatamente a entrada da Quaresma.
Esse termo provém do latim introitus, que significa "entrada". A palavra Entrudo começou por designar apenas a noite de terça-feira, portanto, de entrada na Quaresma, mas, posteriormente, alargou-se ao período desses três dias, de domingo a terça-feira. Essa palavra passou a ser substituída pela palavra Carnaval a partir do século XVIII.
E por falar em comer, antigamente dizia-se “No entrudo come-se tudo»e isto porque como referimos mais atrás era dias gordos e por isso era preciso comer muito e bem gordo para aguentar as festas do Entrudo que para dançar, brincar quer para puxar as carroças, hoje já não é preciso pois o motor puxa os carros alegóricos, portanto nesta altura tudo era permitido mesmo a nível dos exageros gastronómicos até porque se dizia e diz «É Carnaval, ninguém leva a mal». A feijoada era o prato predileto dos Portugueses para ficarem bem saciados e com força. Cada região acrescentou um pouco do seu, como por exemplo em Trás-os-Montes, que é enriquecida com fumeiro da região, ou ainda na Beira Litoral, onde juntam orelheira com nabos, e nos Açores acrescentam ramos de funcho. O que não pode faltar a este prato bem consistente é o arroz, no forno, branco ou como quiser. E já agora um conselho não como a feijoada toda no mesmo dia pois ela é no dia seguinte.
Outro manjar desta quadra é o caldo verde, sopa de pedra, cozido à Portuguesa e depois as sobremesas, boleimas, borrachões, broinhas de abóbora, malassadas, nogados, pastéis de grão ou azevias, filhoses e mesmo arroz doce.
Bom depois de ter o estômago forrado já pode ir brincar ao carnaval mascarar-se do que quiser divertir-se porque esta vida são dois dias e o carnaval três ou quatro os que quiser, por é carnaval ninguém leva a mal.
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