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Grande Reportagem

Se conhecermos as aranhas talvez percamos o medo.


Aracnofobia é uma palavra que muitos conhecem e que está relacionada com o medo das aranhas, aliás esta fobia é das mais antigas que existem e de certa forma este animaizinhos de oito pernas e que podem ser minúsculos ou de dimensões mais assustadora não deixam ninguém indiferente.

Segundo um estudo realizado nos EUA as fobias afetam mais de uma pessoa em cada dez e destas cerca de quarenta por cento têm medo de aranhas.

Explicar o porquê não é fácil. Os psicólogos acreditam que uma das razões pelas quais as pessoas temem aranhas é por causa de alguma experiência anterior direta com os aracnídeos que incutiu o medo nelas.

Em 1991, Graham Davey, da City University de Londres, liderou um estudo para entender mais sobre esse ponto de vista. Ele entrevistou 118 estudantes universitários, questionando-os sobre seus medos de aranhas. Cerca de 75% das pessoas da amostra tinham moderadamente ou severamente medo de aranhas, sendo que a maioria dessa percentagem era do sexo feminino.  

O pesquisador também afirmou que pode haver uma influência familiar nesse medo de aranhas. Aquelas pessoas com medo severo dos aracnídeos relataram ter um membro da família com temores semelhantes, mas o estudo não foi capaz de separar os fatores genéticos de os ambientais.

Em 1997, Peter Muris e seus colegas da Universidade de Maastricht tentaram observar esse efeito através de outra pesquisa. Não surpreendentemente, eles descobriram que, se você der às crianças uma lista de coisas que podem ser assustadoras para elas, a maioria marca itens como não respirar, ser atropelado por um carro, explosão de bombas, incêndios ou assaltantes como muito importantes.

Curiosamente, quando foi disponibilizada para as crianças uma opção livre para dizer aos pesquisadores que tipos de coisas que elas mais temem, tanto os meninos quanto as meninas relataram "aranhas" como o primeiro lugar dos medos — o segundo foi o medo de ser sequestrado, seguido por predadores em terceiro e, em quarto lugar, ficou o escuro.

Esse resultado foi surpreendente. Entre tantos medos que as crianças podem relatar, elas colocaram o de aranha em primeiro lugar. Dessa forma, em contraste com o trabalho de Davey, Muris descobriu que as crianças que tinham mais medo de aranhas poderiam relacionar esse medo a eventos específicos. Talvez o condicionamento fosse o caminho para aracnofobia.

Em 2003, John Hettema, do Instituto Psiquiátrico e Comportamental Genético de Virginia, e seus colegas conduziram estudos com gêmeos para desmembrar os fatores genéticos.

Os gêmeos idênticos têm DNA idênticos, mas tendem a viver em ambientes diferentes na vida adulta, o que permite aos pesquisadores descobrir como os genes afetam o comportamento. Hettema registrou as respostas dos gêmeos sobre imagens "relevantes para o medo" (como aranhas e cobras) em comparação com as imagens de "medo-irrelevante" (círculos ou triângulos).

A análise estatística dos resultados revelou que as influências genéticas foram "substanciais", o que significa que a aracnofobia é hereditária. Ou seja, você não precisa necessariamente conhecer ou passar por uma experiência ruim com aranhas para ter medo delas.

Dito isto vamos lá ver o que estes pobres animais que tanto medo causam podem fazer por nós, por exemplo umas aranhitas dentro de casa dão uma preciosa ajuda a afastar insetos nocivos.

Por isso, quem estuda este animais, não tem problemas em dizer que eles são mais desejáveis em casa do que indesejáveis e o motivo é simples como refere Rui Carvalho, doutorando do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas da Universidade dos Açores e do Laboratory for Integrative Biodiversity Research da Universidade de Helsínquia, “Elas cumprem um papel de controlo de insetos inoportunos, como os mosquitos que nos picam ou as moscas da fruta que adoram aquelas peças escondidas no fundo da fruteira”. Ou seja, são uma forma natural de mantermos a casa livre de insetos sem termos que recorrer a produtos químicos. Fora de casa ajudam, por exemplo, a controlar as pragas agrícolas.

É claro que no nosso imaginário temos as aranhas como animais venenosos e assustadores e algumas até são, mas a maioria das aranhas que existem em Portugal são carnívoras e predadoras. As que encontramos dentro de casa normalmente utilizam como método de caça a construção de teias (nas quais os animais de que se alimentam ficam presos) ou percorrem o solo à procura de vítimas.

Outras espécies presentes em Portugal, mas fora das nossas casas, constroem um alçapão à entrada do seu esconderijo, de onde saem alguns fios da teia. Quando algum animal toca nesses fios, elas abrem o alçapão e capturam-no.

Visto isto era importante controlar os nossos instintos quando deparamos com uma aranha atrás e um armários e corremos logo a ir buscar um qualquer utensílio para a matar.

Há outras opções para que elas não se instalem na nossa casa por exemplo, tornar a nossa casa menos confortável para elas, colocando redes mosquiteiras em todos os pontos de entrada (portas, janelas, chaminés, etc.). Desta forma, impedimos a sua entrada e a dos insetos dos quais elas se alimentam.

Existe uma forma ainda mais célere de fazer com que saiam da nossa casa: basta colocar um copo de vidro sobre a aranha e fazer deslizar uma folha de papel sob o mesmo, de modo a que ela não saia. Depois, é só largá-la numa zona com vegetação.

Rui Carvalho acredita que se conhecermos melhor estes animais e o papel que desempenham na natureza, tenderemos “a olhá-los com menos repulsa e mais respeito”.

Por este motivo, ele e a bióloga Andreia Valente estão a desenvolver um projeto intitulado “Aranhas: ainda temos idade para termos medo delas?”, através do qual pretendem mostrar que “há espaço para muito mais do que o medo; há espaço para convivência, curiosidade e empatia por estes animais”, diz.

O projeto venceu o concurso Fala Ciência?, em novembro de 2018, e em março será apresentado no FameLab, o mais popular concurso internacional de comunicação científica, cuja final decorrerá em junho em Cheltenham, no Reino Unido.

Vamos então ficar a conhecer algumas curiosidades sobre as aranhas:

O número de olhos não é igual em todas as espécies, mas são sempre em número par. Em Portugal, existem aranhas com oito e seis olhos e algumas espécies cavernícolas que simplesmente não têm olhos.

Nem todas as aranhas constroem teias, mas todas fabricam seda. As teias têm propriedades antifúngicas, e algumas podem segregar cola para as presas ficarem agregadas. Podem usá-las para capturar, fazer abrigos, proteger os ovos, fazer linhas de segurança e estruturas para acasalamento.

Existem aranhas em todo o mundo. Desde ambientes aquáticos aos desertos até aos círculos polares. São animais que conseguem adaptar-se bem a condições extremas.

Segundo um estudo realizado por Pedro Cardoso da University of Helsinki e Antonio Paulo G Almeida do Institute of Hygiene and Tropical Medicine São conhecidas em Portugal 800 espécies de aranhas. Destas, apenas duas podem causar algum tipo de condição médica: a viúva-negra Mediterrânica (Latrodectus tredecim-guttatus) e a aranha-violino (Loxosceles rufescens). Ambas são relativamente comuns em quase todo o país, sendo a segunda comum inclusivamente em ambiente urbano. É frequente em Portugal atribuírem-se alguns tipos de lesão necrótica à mordedura de aranhas. No entanto, tal como no resto do mundo, as evidências são quase sempre meramente circunstanciais ou seja segundo aqueles investigadores nenhum caso grave de enve-

nenamento por mordedura de aranha em Portugal foi até agora provado.

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