Este verão os saramugos alentejanos estão a salvo
- Francisco Gs Simões
- 15 de mai. de 2019
- 2 min de leitura

No âmbito do projeto VALAGUA o ICNF promoveu o restauro fluvial de um troço de 1500m onde o saramugo (Anaecypris hispanica) um pequeno peixe alentejano ocorre.
O barranco dos Alcaides, afluente do rio Chança é uma das poucas ribeiras onde a espécie existe. Neste local tinha sido identificada uma ameaça à sobrevivência da espécie. A passagem diária de gado caprino durante o período de estio contribuía para a degradação da vegetação ribeirinha e para a degradação da qualidade da água dos pegos.
O abeberamento direto na linha de água e a livre circulação do gado nas ribeiras são um fator de pressão que contribuem para a degradação da qualidade da água, em especial nos pegos, onde a água não é renovada.
O facto dos seres aquáticos estarem restringidos ao pego sem capacidade de fuga agrava os impactes do acesso do gado sobre o ecossistema ribeirinho. Comparável aos efeitos negativos sobre a saúde de um grupo de seres humanos num local fechado com ar viciado.
A vedação colocada numa extensão de 1350 metros permite impedir o acesso do gado à faixa do Domínio Hídrico. Como contrapartida foi proporcionado ao gado um outro local de abeberamento a partir de uma captação de água subterrânea junto ao monte Novo dos Alcaides.
Na área intervencionada existem pegos que resistem ao período de estio e sobretudo aos episódios de seca severa, como os de 2004/2005 e de 2016/2017. A recuperação da vegetação ribeirinha é determinante para a melhoria das condições de sobrevivência das espécies no pego, na medida em que contribui para a diminuição da evaporação e para a manutenção das condições físico-químicas da água adequadas, fornece refúgio e promove a ocorrência de invertebrados, que são uma fonte de alimento relevante para os peixes.
Neste sentido foi melhorada a vegetação ribeirinha em cinco pegos através da instalação de estacas de salgueiros (Salix atrocinerea), freixos (Fraxinus angustifolia) e choupos-brancos (Populus alba), no final de 2018.
Este é o primeiro verão em que os saramugos estão a salvo da pressão do gado na linha de água. E a confirmação do bom estado vegetativo das plantas instaladas vaticina o sucesso do restauro, que culminará no desenvolvimento da galeria ripícola e no seu contributo para a resiliência dos pegos face às alterações climáticas.
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