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Crónicas ao sábado: Luís Miguel Silva

Este não será mais um texto sobre os perigos da internet (ou porventura será mesmo). Ultimamente temos assistido a uma exploração deste tema de várias formas e feitios.

A grande problemática dos dias em que vivemos consiste em perceber efetivamente aquilo que é real e aquilo que não é. Os grandes gigantes tecnológicos que outrora pareciam os grandes bastiões da democracia, não se importam com isso. Ao invés, criam ferramentas (os chamados algoritmos) para nos mostrar aquilo que cada um de nós quer ver.

O espaço para a discussão política que trouxe tanta esperança no início do advento das redes sociais, como a primavera árabe, é hoje diminuto e redutor. A cada um de nós, interessa-nos ver aquilo que já concordamos e retaliar contra tudo aquilo que não nos diz nada. Não há mais espaço para a reflexão sobre aquilo que é a realidade, por muito que nos custe e aquilo que é de facto a nossa percepção da construção do mundo baseada nos nossos valores, crenças, experiências e expectativas. Muitos de nós vemos um título de um jornal e neste mundo V.U.C.A (acrónimo para volátil, incerto, complexo e ambíguo em português) torna-se extremamente fácil construir uma história daquilo que se passou, generalizando e disseminando uma ideia, como se de uma notícia realmente fosse.

Os jornalistas têm claramente uma quota parte nesta questão: durante anos foram eles os disseminadores de notícias falsas ou incompletas, onde as fontes não eram certificadas e onde os chefes de redação pagavam 500 euros a um profissional que tinha (e tem) de trabalhar 10 horas por dia.

Mas não é sobre isso que quero realmente escrever. Neste final de 2018 já não vale a pena estarmos constantemente a apontar os dedos e as falhas para um sistema repleto delas. Há que construir hipóteses, ter planos para o futuro, de forma a que os consigamos ultrapassar em conjunto. É uma realidade que não se cinge à política, mas também à própria vida das empresas e para isso há que ter um pouco mais de tempo para refletir. Refletir na diferença e na forma como a conseguimos convergir para lago positivo. O que a história nos mostra é que não existem muros que nos consigam tornar mais seguros, principalmente no mundo global em que vivemos e por isso, há que criar pontes utilizando a tolerância. A tolerância é esse valor crucial da democracia. Tolerância pela pessoa que disse uma barbaridade e cometeu o erro de o dizer para uma câmara, tolerância pela opinião alheia que não terá de ser igual à nossa e tolerância pela diferença, de forma a que construamos pontes ao invés de muros.

Tolerância ao erro, porque sem ele não conseguimos arriscar e consequentemente haverá pouca evolução, tolerância pelo nosso colega do lado que todos os dias conta a mesma piada e tolerância pelos nossos amigos que desmarcam sempre à última aquele jantar que estava combinado há meses.

Seria importante ensinar isto às crianças, para que consigam viver num mundo melhor do que o nosso. É que ao contrário do que se lemos, o mundo não está cada vez mais perigoso. Basta ver no site Our World in Data, compilado por investigadores de Harvard. Basta ver o desenvolvimento de algumas cidades de África, a recuperação da Colômbia ou o desenvolvimento do Canadá.


Seria importante ensinar às crianças a importância da liberdade de expressão, que não deve ser posta em causa nunca, mas que também deverá ser usada com substância e conhecimento de causa e para isso será necessário ler mais e melhor, viajar, ter reconhecimento real do mundo que nos rodeia, para que depois possamos agir sobre ele. É necessário aposta ainda mais na educação e no desenvolvimento do capital humano.

Citando Rui Tavares Guedes: “cada artigo é, no fundo, um retrato da realidade atual do planeta – que cada um, depois de lê-lo, forme a sua livre perceção sobre o estado atual do mundo”.

Luís Miguel Silva é um apaixonado pelas relações internacionais, recursos humanos e política. É atualmente responsável pela Gestão de Pessoas e Marketing de uma empresa tecnológica do Porto, cidade de onde é natural e vice-presidente da Porto Tech Hub.

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