Cartas de Amor
- Francisco Gs Simões
- 25 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Dê a quem você ama: asas para voar,
raízes para voltar e motivos para ficar.

Quando o inverno chegava e a noites eram grandes, grandes também eram as conversas à lareira daquela casa de campo lá para o Gerês, a Casa do Palheiro era sempre a escolhida quando Rita chegava depois de dias de grande azáfama e viagens intermináveis.
Com o calor do lume a queimar os pés enfiados em meias de lã, a Rita dissertava ou melhor viaja por teorias amorosas que fascinavam o David.
- A grande dificuldade no amor, não é amar é escolher. Temos uma tendência, para não termos a responsabilidade da escolha que como qualquer escolha pode errar, por isso dizemos que não escolhemos quem amamos. E, continuava enquanto bebia um fumegante chá de camomila “Esse é o maior erro da nossa vida enquanto seres que se regem pelos sentimentos, na realidade somos sempre nós que escolhemos. O amor não é uma ditadura, o amor é liberdade, aliás nós só realmente amamos se formos livres para escolher quem queremos amar. E, perguntava divertido o David, se não tivermos essa liberdade não amamos?
- sim retorquia a Rita,” quando muito habituamo-nos o que obviamente não é a mesma coisa e pode até parecer, porque em determinada altura nos sentimos seguros, protegidos, emocionalmente estáveis enfim como se costuma dizer bem resolvidos”. A conversa fluía então para a escolha. “ Essa é que é a grande dificuldade no que concerne ao amor e às relações entre as pessoas, relações mais digamos intimas entenda-se” dizia a Rita enquanto beijava a orelha do David: - Não é fácil escolher ou mesmo distinguir entre o amor e outro tipo de sentimento que vá para além da pura amizade, que é algo que pode ser tudo ou nada, o amor esse leva sempre a um lugar, leva sempre ao sim ou ao não leva por isso à escolha. É isso mesmo meu querido “ O amor acontece sempre de forma diferente e ainda bem para não ser capturado dissecado e depois vendido a quem tiver mais capacidade de o comprar, o amor acontece a todos e das mais diferentes formas, e essa é a dificuldade, porque nunca sabemos como ele acontece. Muitas vezes lemos, questionamos os nossos amigos para nos certificarmos se realmente o que sentimos por alguém é amor. Bem, se levássemos à letra as experiencia alheias estávamos sempre a ser enganados ou então desistíamos, porque afinal “ a nós não nos aconteceu nada daquilo”.
- Então deixa ver se entendo a tua ideia Rita. Assim sendo o amor, e digo amor porque é o mais perceptível e não tenho de estar aqui a dar a minha opinião sobre o sentimento mais verdadeiro mais vulcânico. O amor aparece em qualquer momento, mas muitas vezes aparecem também muitos outros sentimentos envoltos na capa do que pensamos ser amor. A maior parte das vezes, nós temos a certeza que é amor, e pronto nem questionamos,” é amor, eu não posso fazer nada, vamos lá dar seguimento à coisa”.
- Pois é isso mesmo David de repente estamos a ficar tristes, desconfiados, amargurados, e como não queremos dar o braço a torcer, isto é reconhecer que erramos, vamos dizer que o amor é cego, que nos cegou e que agora temos de aguentar porque por mais que queiramos não podemos fugir dele. Ficou nesta altura um silêncio no silêncio do Gerês.
- Uiiii o que me veio à cabeça, disse a Rita “Essa espera leva muitas vezes muitos anos, leva muitas vezes muito sofrimento, leva a tudo aquilo que nós detestamos e criticamos, mas sempre achamos uma desculpa, “não mandamos no coração”. Esta busca de desculpas para disfarçar a falta de coragem de reconhecer o erro, leva-nos a aceitar com naturalidade a coisa mais anti amor que há, o ciúme, que nós associamos ao amor. Dizemos até sem ciúme não há amor, esta patetice faz com que percamos a noção exata do amor e de amarmos.
- E já agora diz-me uma coisa Rita, Como é que sabemos se realmente amamos uma pessoa ou se essa pessoa nos ama.
- Bem, no fundo nós sabemos mas não queremos voltar atrás depois de termos escolhido, vamos transformando tudo o que é mau em bom, isto até um dia claro e até esse dia perdemos muita coisa e principalmente a capacidade de gostar dos outros e de nós. - Rita, como dizia um amigo meu cigano sobre o luto, aqui fica uma dica para o amor, quando o amor começar a pesar, está na hora de o tirar... é que ele já só pesa....
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