Cartas de Amor
- Francisco Gs Simões
- 18 de mar. de 2019
- 2 min de leitura
O coração é a região do inesperado.

Na mesa vazia um lugar, o David esperava. O café esfriava e o jornal continuava aberto naquela página que lhe tinha chamado à atenção. Na televisão o cantor continuava abanando as ancas chamando a atenção para tudo o que não fosse a canção. No bolso do casaco que afasta o frio continuava intacta a paciente prenda que aguardava pacientemente para ir ocupar o seu lugar.
Lá fora a chuva teimava em continuar a bater na vidraça, os carros passavam a velocidade moderada. Os faróis acesos desenhavam figuras fantasmagóricas no alcatrão liso. Uma travagem brusca retirou-lhe o olhar da TV e afastou dele a conversa que o entretinha e que vinha da mesa ao lado.
Estava na hora de ir embora, o café iria continuar cada vez mais frio e a notícia do jornal começava a perder a atualidade, só o bolso do casaco o confortava e lhe dava alento para enfrentar a chuvinha que teimava em esperar por ele para o molhar: - Amanhã volto, disse sem se aperceber que falava alto.
- Como? Ouviu de uma voz suave vinda da mesa do lado, de onde há pouco seguir a conversa sem nexo entre duas pessoas sem nexo que recordou então nada tinham a ver um com o outro.
Apressou-se a pedir desculpa e a desculpar-se com os pensamentos que por vezes tomam o caminho da boca.
Ela sorriu divertida com a atrapalhação dele e levantando-se aproximou-se e chegando perto do seu ouvido disse:
- Sabe, a vida não é feita do que se perde.
Deixou na mesa umas moedas, nem se importou com o casaco de homem que ficou na cadeira e perante o olhar guloso de outros homens e de espanto do David dirigiu-se à porta e enfrentou a chuva.
O David apressou o passo, diz quem viu que correu mesmo, apanhou-a na esquina da rua e metendo a mão no casaco, tirou dele uma caixa mal embrulhada, tocou-lhe no ombro e disse:
- Desculpe deixou isto é cima da mesa.
- Ohhhh...porque se incomodou, não é minha.
- Agora é, disse o David retirando-se apressadamente tendo ainda ouvido entre o barulho de uma rua movimentada em dia de chuva:
- Obrigado então...o meu nome é Rita.
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