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Cartas de Amor

Talvez não…


Não sabia bem explicar, e talvez por não saber explicar nunca iria mudar o rumo da sua vida. A Rita guardava toda a sua existência nas cartas que nunca lia, talvez porque estivessem em branco, apenas com o nome do remetente bem visível e do destinatário algo tão sumido que dificilmente e a olho nu, alguém pudesse um dia ler.

Por isso fugia dos encontros ou fazia dos encontros ocasionais, ocasiões para não dizer nada ou então banalidades que serviam somente para estar junto do Rui e pouco mais. Era como os convites para beber café, pobre café que pouca importância tem para o fato de irem beber café.

Assim se sentia por vezes o Rui, não importava a qualidade, o aroma, o sabor, também pouco importava a chávena ou o açúcar ou mesmo o local, nada importava, nada era pretexto, era somente para estar fora de um ambiente de que talvez não gostasse, mas que não podia viver sem ele.

Por isso na Rita aproveitava todas as discordâncias para acabar a conversa, aproveitava todos os silêncios para silenciar ainda mais o encontro. Ah…e se por acaso a conversa tomasse o caminho da verdade, fingia que não entendia e mudava de rumo, pensando e não se importando que os outros a achassem…burra.

O Rui também fingia que não sabia, que não entendia, por vezes pensava em explicar em dizer tudo o que sabia, por vezes até estava longas temporadas sem dizer nada, mas depois voltava sorria porque gostava de sorrir e porque lhe dava uma certa alegria saber de tudo da Rita e ela respondia ao seu sorriso porque também ela sabia que o Rui sabia e que enquanto fosse assim, sem dizer nada era…feliz. Ou, talvez não respondia o Rui.

Mário Simões


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