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Foto do escritorFrancisco Gs Simões

Cartas de Amor

Para quem sabe esperar, tudo vem a tempo.


Esperava naquele banco de jardim a hora certa o momento exato em que pelo lado do direito da rua a camioneta irrompesse célere e determinada a entrar à primeira na garagem de portão estreito e de rampa ligeiramente oleada e negra dos gases escuros que saiam do escape. Demorava alguns minutos até que da escadaria limpa começassem a sair os primeiros passageiros, uns apressados de saco vazio ao ombro corriam em direção à rua que os levava ao parque de estacionamento onde alguém os esperava com saudade. Depois vinham os outros mais lentos e mais pesados pela bagagem que depositavam na mala traseira do táxi cujo sorriso do seu proprietário denunciava uma corrida mais longa. Entre as árvores do jardim que dava para a rua David via sair cada uma das pessoas que chegavam naquela tarde de sábado à cidade. O alvoroço ia desaparecendo ficando de repente somente o homem que vendia gelados e amendoins a olhar para dentro da casa grande de onde agora não saía ninguém Esperar mais uma hora era o único remédio que havia, mais uma hora de esperança que da longa escadaria descesse graciosamente uma mulher bonita de cabelos negros e lábios cor de púrpura e que com um sorriso longo olhasse as árvores ao longe e com um pequeno sinal disse olá Faltava uma hora, mais uma hora em que os minutos custavam a passar, mais uma hora de incerteza e angustia até que do lado direito da rua a camioneta irrompesse de novo e a alegria e esperança voltasse a fazer sorrir e a brilhar os olhos que pouco depois se fechariam na desesperante espera e na certeza cada vez mais certa de que não era ainda hoje o dia em que Rita chegava

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