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Cartas de amor

A vida é a arte do encontro,

embora haja tanto desencontro pela vida.



Nunca tinham falado de amor, nem tinham feito promessas de amor, nem sequer alguma vez pensaram e dar uma prova de amor, simplesmente estavam bem um com o outro, nãos se completavam viviam-se. David e Rita não eram nunca apontados como exemplo de casal apaixonado, jamais figurariam numa fotografia de rosto juntos dentro de um coração vermelho e com uma legenda, amor é… Estavam juntos nas gargalhadas que davam ao percorrerem as ruas da cidade à procura de algo que surpreendesse o outro, fundiam os corpos no momento em que o desejo tocava a reunir, tinham longos silêncios nas noites quentes de verão ou geladas de inverno quando enrolados no velho cobertor bebiam o chá quente de cavalinha e comiam os biscoitos que tinham feito, deixando a cozinha num desalinho. Tudo tinha acontecido porque tinha de acontecer, nem demasiado rápido nem demasiado maturado, nunca tinham pensado ou imaginado ou desejado do outro aquilo que queriam.

Encontraram-se por acaso numa rua da cidade e mais tarde uma rede social voltou a provocar o encontro.   Não interagiam muito, um olá de vez em quando, um tudo bem, meia dúzia de vezes era o máximo da intimidade que se permitiam até que um dia deram por eles a ficarem alegres com um simples, bom dia. Um encontro ocasional levou a mão de um a tocar na mão de outro, foi tudo tão natural que ficaram de mãos dadas sem mais ninguém saber, e ninguém percebeu ou sabe ou se importa que se amem, ninguém comenta aquele amor. O David e a Rita amam-se sem que tenham feito muito para isso. Pois, o amor que dá trabalho não é amor, disseram um dia a um amigo que jurava que estava cansado de dar provas de amor.

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