Cartas de Amor
- Francisco Gs Simões
- 3 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Hoje sou a saudade imperial Do que já na distância de mim vi... Eu próprio sou aquilo que perdi...

Afinal quem somos, qual é a parte de nós que é verdadeira. Na realidade nós não somos o que somos realmente. Somos a imagem que transmitimos aos outros e com a qual nos habituamos a viver. É de fato estranha a nossa vida, estranha e amargurada, porque vivemos sempre de enganos, ou nos enganamos a nós ou enganamos os outros. E mais curioso é que nos esforçamos por procurar o nosso eu verdadeiro e quanto mais procuramos mais nos enredamos no labirinto de nós mesmo e nos afastamos da nossa essência e em vez de uma mentira acabamos por ser só mentiras. O melhor mesmo é nós aceitarmos que há um eu e um outro, como na peça de José Régio, “Mário ou eu próprio o outro” que relata o encontro final de Mário de Sá Carneiro. Não é necessário haver conflito ou um final dramático, afinal somos feitos desta dualidade entre o eu e o outro eu, um ajuda o outro, um complementa o outro e se um é mais físico e por isso mais imperfeito o outro está mais escondido no nosso intimo e é capaz de fazer perfeitas as imperfeições. Os dramas existencialistas que desde cedo nos incutem com as exigência de sabermos o que queremos o que somos, de termos certezas, de nos darem formulas que julgamos certas, faz-nos afastar de nós, faz-nos criar uma terceira mentira que não é natural e aí sim tudo se torna problemático. É que se o eu e o outro eu se completam e juntos nos fazem seres superiores, o terceiro eu é fictício, mas tem o poder de anular os outros. Quando nos esforçamos por acreditar que temos a certeza que sabemos exatamente quem somos e o que queremos, estamos a cometer o suicídio, pois julgamos que conseguimos juntar o que realmente somos à imagem que transmitimos e afinal apenas nos transformamos numa outra coisa não humana, não criada pela inteligência, mas sim fabricada por uma ilusão cujo único fim é destruir-nos. Somos nós próprios e o outro, somos realidade e imagem, somos a incerteza, somos o meio, somos o caos, somos humanos.
- isto é para publicares Rita?
- Não... é para te oferecer!
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