Cartas de Amor
- Francisco Gs Simões
- 27 de mai. de 2019
- 2 min de leitura
Ainda que tivesse que ficar só,
não trocaria a minha liberdade de pensar por um trono.

David preferia estar só a ter aquela estranha sensação de estar acompanhado. Nas longas caminhadas pelo campo, ele vivia como queria e onde queria, descobria por entre a folhagem das árvores um ninho de pintassilgos que o levava a ficar horas a observar o vai vem dos progenitores que saciavam a fome das pequenas crias. O tempo levava tempo a passar, era bom sentir o tempo a passar por ele. Uma leve brisa fazia-o arrepiar momentaneamente, mas o som do campo fazia com que esquecesse o friozinho bom e o sol temperava então a pele que assim ficava mais macia, mais sensível ao toque da Rita que vinda do nada o assustou e deixou maravilhado. Era assim a Rita meio mulher e sempre gaiata que sorria da vida e para a vida e que lhe trazia de volta os sonhos da infância.
David e Rita haviam-se conhecido quase por acaso. Digo quase, porque ambos aproveitaram o acaso para se conhecerem. Foi no final da noite ou princípio da manhã num mês de agosto qualquer nas festas de verão da aldeia.
Nunca se tinham visto ou pelo menos não se lembravam de alguma vez se terem cruzado embora frequentassem os mesmos lugares na cidade onde moravam. A Rita era uma mulher do mundo, sempre entre o chega e o vai ,em afazeres que nem sempre o David Salgado entendia, também nunca sentira necessidade de perguntar, talvez por não querer dizer que o seu trabalho era monótono demais, para quem sonhara com uma vida de aventuras. Depois daquele final de noite principio da manhã em que ainda com os acordes do grupo de baile na cabeça e o sabor a vinho nos lábios se cruzaram no adro da igreja e que com um brilho nos olhos que não enganavam o estado de alcoolemia em que se encontravam, simplesmente disseram, bom dia ou boa noite, sei lá. E assim se conheceram e assim entre bons dias e olás se cimentou uma amizade que nunca chegou a ser porque passou rapidamente a uma grande paixão que durava há anos. Partiram no dia seguinte para a cidade, ultrapassaram-se na estrada sem darem por isso, voltaram um ano mais tarde e reconheceram-se, David preferia estar só a ter aquela sensação de estar acompanhado a Rita veio por trás e tocou-lhe na pele.
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