top of page

Cartas de Amor

Não sabemos da alma senão da nossa; As dos outros são olhares, são gestos, são palavras,  com a suposição de qualquer semelhança no fundo.


De repente tudo parecia ser possível, as palavras aconteciam com uma crescente normalidade, as barreiras linguísticas quebravam-se rapidamente, os gestos das mãos multiplicavam-se, e estas tocavam-se com naturalidade sem que nenhum de nós fizesse nada para o evitar.

O mundo parecia agora fácil de conquistar, estava mais belo. O ódio, a inveja o ciúme era coisa que pura e simplesmente tinha deixado de existir, ou pelo menos não fazia parte daquele mundo onde estávamos a viver.

A lógica das coisas era como que irreal, tudo se regia sob o comando das emoções. A música que se ouvia embrenhava-se no nosso cérebro sem contudo afastar a nossa atenção, as pessoas que subiam as escadas e depois as desciam eram como fantasmas sem rosto, sem expressão, sem imagem.

Entre um acender do cigarro e o voltar à conversa, tive tempo de pensar se tudo o que estava a acontecer era real. Se não seria o álcool a fazer efeito ou simplesmente um sonho bom que ia terminar depressa.

A ideia que poderia ser álcool ou sonho, fez-se sentir mal. Passado um ou outro, as palavras começariam a ter um significado menor ou não teriam mesmo significado nenhum. Quando a ressaca passasse ou o sonho fosse esquecido então as palavras soariam a ridículo. Esta hipótese deixou-se momentaneamente inseguro e triste...(continua).

Comments


bottom of page