top of page

Cartas de Amor

O amor é a única paixão que não admite nem passado nem Futuro

Honoré de Balzac



Caminhavam de mão dada sem perceber que viviam num mundo onde todos esqueceram que as mãos foram feitas para se darem. Quando o empregado do café lhes perguntou se eram namorados, responderam sorrindo que eram amantes.

Trocavam palavras como trocavam sorrisos. Sem dar importância às palavras, quando os seus olhos se encontravam sorriam. E sorriam ao constatar quando eles se encontravam, as palavras fluíam com uma avidez tal que se atropelavam tal qual faziam quando finalmente ficavam sós.

A Rita, despida da seriedade a que era obrigada durante a semana, tornava-se a cada fim de tarde de sábado na gaiata provocadora que sempre fora. Sair pela cidade com ela era iniciar uma aventura cujo fim era sempre o desejo de voltar oito dias depois.

Raramente falavam dos acontecimentos da semana, desconheciam-se completamente como se o mundo se resumisse àquela meia dúzia de horas que serviam somente para provocar.

Provocavam os casais, que aproveitavam a tarde de sábado para passearem e darem um pouco de atenção à criança birrenta que queria tudo. Procuravam no olhar deles a tristeza ou a alegria da vida que levavam.

Provocavam os casais que se juntavam a outros casais e iam passeando pela rua, os homens à frente conversando sobre os ganhos de uma semana de trabalho e elas atrás num misto de conversas caseiras e novidades carregadas de inveja das “amigas” que continuavam....magras.

Era assim o amor entre eles. Sorriso, risos suspiros e depois a calma a tranquilidade que os faziam sentir cada vez mais próximos.

Não falavam de nada a não ser deles, do sol que os acordava e os fazia sorrir, da lua que os espiava e os mandava procurar uma sombra onde ninguém desse com eles e por fim do mundo bonito que existiria se só fosse habitado por pessoas como eles. O tempo não passava, ficava com eles enquanto eles quisessem e depois corria então lentamente até se encontrarem de novo, quase sempre por mero acaso, mas um acaso sempre programado por aquele a quem eles confiavam a paixão. O destino. Um dia a Rita perguntou que tipo de relação era aquela. Procuraram nos livros dos especialistas, nos exemplos conhecidos e até dos inventados, riram quando descobriram que afinal a sua relação era apenas e tão só...amor.

Levantaram-se da mesa do café e beijaram-se como dois adolescentes, sorriram aos casais que os olhavam com espanto e ao passarem pelo empregado a Rita deu-lhe um beijo na face e segredou-lhe “ Não se preocupe...somos mesmo namorados”.

Saíram para a rua , sorriram aos velhos que jogavam às cartas no jardim, espreitaram o par de namorados que se beijavam no interior do carro, ele comprou flores ela recebeu-as, disseram adeus e ficaram juntos...

Comments


bottom of page